Acessibilidade / Reportar erro

IMPACTOS NA VIDA SOCIAL E FAMILIAR DO TRABALHO POR TURNOS NA PERSPECTIVA DOS FAMILIARES

Impacto en la vida social y familiar del trabajo por turnos desde la perspectiva de los familiares

RESUMO

A investigação tem privilegiado o estudo dos impactos do trabalho por turnos na saúde dos trabalhadores considerando a perspectiva dos próprios. Em contraste, o presente estudo avaliou os impactos dessa modalidade horária na vida familiar e social dos trabalhadores, segundo a perspetiva dos cônjuges/companheiros(as). Compararam-se também os impactos de dois horários de trabalho diferentes (trabalho por turnos vs. horário normal) na vida familiar e social. Participaram no estudo 515 cônjuges de policiais portugueses. Verificou-se que o trabalho por turnos tem impacto de moderado a elevado em todas as áreas avaliadas da vida familiar e social, tendo os cônjuges de trabalhadores por turnos relatado maiores impactos na reorganização familiar e na vida social conjunta. Quanto aos dois horários, foram encontradas diferenças estatisticamente significativas em todas as áreas avaliadas, tendo os familiares de trabalhadores por turnos relatado maiores impactos do horário de trabalho do cônjuge do que os familiares de trabalhadores diurnos.

PALAVRAS-CHAVE
Horários de trabalho; trabalho por turnos; vida familiar e social; perspectiva dos familiares; policiais

RESUMEN

Las investigaciones anteriores han privilegiado el estudio del impacto del trabajo por turnos en la salud de los trabajadores desde su propia perspectiva. Este estudio, por el contrario, evaluó el impacto de la modalidad horaria según la perspectiva de los cónyuges/compañeros/as. Se comparó también el impacto de dos tipos de horarios (trabajo por turnos contra horario normal) en la vida familiar y social. En el estudio participaron 515 cónyuges de policías portugueses. Se constató que el trabajo por turnos tiene un impacto de moderado a elevado en todas las áreas evaluadas de la vida familiar y social, y los conjugues de trabajadores por turnos relataron mayor impacto en la reorganización familiar y en la vida social conjunta. En cuanto a los dos horarios, se encontraron diferencias estadísticamente significativas en todas las áreas evaluadas, y los familiares de trabajadores por turnos relataron mayor impacto del horario de trabajo del cónyuge que los familiares de trabajadores diurnos.

PALABRAS CLAVE
Horarios de trabajo; trabajo por turnos; vida familiar y social; perspectiva de los familiares; policías

ABSTRACT

Research has thus far privileged the impact of shift work on workers' health from the workers' perspective. Inversely, this study evaluates the impacts of such a work schedule on the family and social life of workers according to their partners' perspective. It also compares the impacts of two different work schedules (shift work vs. standard work) on family and social life. Five hundred and fifteen partners of Portuguese police officers participated in the study, and it was found that shift work has a moderate to high impact on all evaluated areas of family and social life. Partners of shift workers report greater impacts on family reorganization and joint social life. Regarding the two work schedules, statistically significant differences were found in all evaluated areas, and the partners of shift workers reported greater impacts of their partner's work schedule than did the partners of day workers.

KEYWORDS
Work schedules; shift work; family and social life; family members' perspective; police officers

INTRODUÇÃO

Os horários de trabalho têm um papel estruturante na organização temporal dos indivíduos, das empresas e das sociedades, sendo, por isso, considerados uma das dimensões-chave das condições de trabalho. Com efeito, a quantidade e a qualidade do tempo disponível fora do trabalho são fundamentais e devem ser tidas em conta numa gestão adequada do tempo de trabalho, dado que a sociedade e as famílias tendem a reger-se por um padrão temporal diurno (i.e., trabalho durante o dia e descanso ao final da tarde/noite) que pode, em alguns, casos colidir com os horários de trabalho (ex.: trabalho noturno). Nesse contexto, a organização do tempo de trabalho coloca às organizações importantes desafios do ponto de vista da gestão de recursos humanos em geral e da interface trabalho-vida familiar/social em particular.

Com a evolução da sociedade, as mudanças no mundo laboral têm sido constantes, mas, a partir do início do século XXI, começou a ganhar importância uma nova economia - a "economia 24/7", que se traduz no aumento do tempo operacional das organizações até 24 horas por dia, 365 dias por ano (Costa, 2003Costa, G. (2003). Shift work and occupational medicine: An overview. Occupational Medicine, 53(2), 83-88. doi:10.1093/occmed/kqg045
https://doi.org/10.1093/occmed/kqg045...
). A criação dessa nova economia resulta da inter-relação de múltiplos fatores como a concorrência dos mercados, a procura dos consumidores de serviços disponíveis 24 horas por dia ou o envolvimento da mulher no mercado de trabalho. Para responder a tais demandas, os horários de trabalho têm sofrido diversas alterações, entre elas, o desenvolvimento dos designados horários "atípicos". Tal designação tem sido aplicada para caracterizar os horários que diferem do horário convencional de trabalho (tipicamente definido de segunda a sexta-feira, das 9 às 5 horas), como é o caso do trabalho por turnos e noturno.

Segundo a Lei nº 7/2009, de 12 de fevereiro, que regula o Código de Trabalho português, "considera-se trabalho por turnos qualquer organização do trabalho em equipa em que os trabalhadores ocupam sucessivamente os mesmos postos de trabalho, a um determinado ritmo, incluindo o rotativo, contínuo ou descontínuo, podendo executar o trabalho a horas diferentes num dado período de dias ou semanas" (Artigo 220.º). Segundo a mesma legislação, é considerado trabalho noturno aquele que é "prestado num período que tenha a duração mínima de sete horas e máxima de onze horas, compreendendo o intervalo entre as 0 e as 5 horas (Artigo 223.º, ponto 1), esclarecendo, ainda, o ponto 2 do referido artigo que o "período de trabalho noturno pode ser determinado por instrumento de regulamentação coletiva de trabalho" e que, na falta deste, se considere o período "compreendido entre as 22 horas de um dia e as 7 horas do dia seguinte". Segundo o sexto Inquérito Europeu das Condições de Vida e de Trabalho, em 2015, 21% dos trabalhadores da União Europeia realizavam trabalho por turnos e 19% realizavam trabalho noturno (European Foundation for the Improvement of Living and Working Conditions - Eurofound, 2016European Foundation for the Improvement of Living and Working Conditions - Eurofound. (2016). Sixth European Working Conditions Survey - Overview report. Publications Office of the European Union. doi:10.2806/518312
https://doi.org/10.2806/518312...
). Tais configurações horárias, quando comparadas com o horário de trabalho convencional, têm sido associadas a dificuldades acrescidas na organização da vida familiar/social.

Nas últimas décadas, as famílias têm sofrido diversas alterações (exs.: aumento médio da idade de parentalidade, aumento dos casais de dupla carreira ou de famílias monoparentais), algumas delas representando maiores dificuldades no desempenho dos papéis familiares e na complexidade das relações entre os diversos membros do agregado familiar (Oláh, Kotowska, & Ritcher, 2018Oláh, L. S., Kotowska, I. E., & Richter, R. (2018). The new roles of men and women and implications for families and societies. In G. Doblhammer & J. Gumà (Eds.), A Demographic perspective on gender, family and health in Europe (pp. 41-64). Cham: Springer.). Por exemplo, no início dos anos 1990, existiam cerca de 200 mil famílias monoparentais em Portugal, ao passo, que, em 2017, existiam perto de 440 mil (Pordata, 2018Pordata. (2018). Agregados domésticos privados monoparentais: total e por sexo. Recuperado de https://www.pordata.pt/Portugal/Agregados+dom%C3%A9sticos+privados+monoparentais+total+e+por+sexo+-20-3657
https://www.pordata.pt/Portugal/Agregado...
). Por outro lado, o envelhecimento da população tem provocado o aparecimento de uma nova tipologia de família que inclui o cuidado de idosos. Parker e Patten (2013)Parker, K., & Patten, E. (2013). The sandwich generation, rising financial burdens for middle-aged Americans, pew research, social & demographic trends. Recuperado de http://www.pewsocialtrends.org/2013/01/30/the-sandwich-generation/
http://www.pewsocialtrends.org/2013/01/3...
intitularam essas novas famílias de "sandwich generation", pois, além de cuidarem dos próprios filhos, também prestam cuidado aos pais idosos (em 2012, 15% dos adultos de meia-idade norte-americanos estavam nessa situação). Como sublinham Oláh et al. (2018)Oláh, L. S., Kotowska, I. E., & Richter, R. (2018). The new roles of men and women and implications for families and societies. In G. Doblhammer & J. Gumà (Eds.), A Demographic perspective on gender, family and health in Europe (pp. 41-64). Cham: Springer., a vida familiar é uma construção social, pois o quotidiano é incorporado com "as rotinas diárias internas, as práticas e atividades sociais externas, interligadas com as mudanças nos papéis de género e nas relações familiares" (p. 17) e, nesse sentido, tem de ser entendida num cenário societal mais amplo.

Consequências do trabalho por turnos

Embora o estudo das consequências negativas do trabalho por turnos tenha prevalecido ao longo dos anos (Shen & Dicker, 2008Shen, J., & Dicker, B. (2008). The impacts of shiftwork on employees. The International Journal of Human Resource Management, 19(2), 392-405. doi:10.1080/09585190701799978
https://doi.org/10.1080/0958519070179997...
), esse tipo de horário pode representar vantagens para os trabalhadores, onde se sublinham os benefícios em nível econômico (ex.: majoração econômica) e em nível da reorganização temporal (ex.: mais tempo livre durante o dia, facilitando o acesso a serviços apenas diurnos) (Silva, 2012Silva, I. S. (2012). As condições de trabalho no trabalho por turnos: Conceitos, efeitos e intervenções. Lisboa, Portugal: Climepsi Editores.; West, Mapedzahama, Ahern, & Rudge, 2012West, S., Mapedzahama, V., Ahern, M., & Rudge, T. (2012). Rethinking shiftwork: Mid-life nurses making it work. Nursing Inquiry, 19(2), 177-187. doi:10.1111/j.1440-1800.2011.00552.x
https://doi.org/10.1111/j.1440-1800.2011...
).

Segundo Costa (2004)Costa, G. (2004). Multidimensional aspects related to shiftworkers' health and well-being. Revista de Saúde Pública, 38(supl), 86-91. doi:10.1590/S0034-89102004000700013
https://doi.org/10.1590/S0034-8910200400...
, a relação entre o trabalho por turnos, a saúde e o bem-estar pode ser condicionada por vários fatores, como as características pessoais, as exigências do trabalho, a condição social e as relações familiares. Apesar dessa complexidade, as dificuldades provocadas pelo trabalho por turnos podem ser organizadas em três áreas: organizacional (ex.: redução da segurança), saúde (ex.: queixas de sono) e vida familiar e/ou social dos trabalhadores (ex.: dificuldades no convívio social) (Silva, 2012Silva, I. S. (2012). As condições de trabalho no trabalho por turnos: Conceitos, efeitos e intervenções. Lisboa, Portugal: Climepsi Editores.). Apesar de, nos últimos anos, a investigação sobre os impactos do trabalho por turnos ter vindo a aumentar e a diversificar-se, continua a existir uma predominância do estudo dos impactos na saúde dos trabalhadores, em detrimento da vida familiar e social (Matheson, O'Brien, & Reid, 2014Matheson, A., O'Brien, L., & Reid, J. A. (2014). The impact of shiftwork on health: A literature review. Journal of Clinical Nursing, 23(23-24), 3309-3320. doi:10.1111/jocn.12524
https://doi.org/10.1111/jocn.12524...
).

Por outro lado, a evidência (exs.: Handy, 2010Handy, J. (2010). Maintaining family life under shiftwork schedules: A case study of a New Zealand petrochemical plant. New Zealand Journal of Psychology, 39(1), 7-14.; Li et al., 2014Li, J., Johnson, S. E., Han, W., Andrews, S., Kendall, G., Stradzins, L., Dockery, A. (2014). Parents' nonstandard work schedules and child well-being: A critical review of the literature. Journal of Primary Prevention, 35(1), 53-73. doi:10.1007/s10935-013-0318-z
https://doi.org/10.1007/s10935-013-0318-...
) tem indicado que os sistemas de turnos mais penosos para os trabalhadores são os que incluem trabalho noturno, fins de semana e rotação por diferentes turnos, pois o tempo livre no final do dia e nos fins de semana é percebido como tendo grande valor em termos de contato familiar e de atividades sociais. Não obstante a interferência nos domínios familiares e sociais que os horários no final do dia podem representar, de um modo geral, pode dizer-se que a legislação portuguesa reconhece sobretudo o sacrifício associado ao trabalho noturno (i.e., apenas a partir das 22 horas), devendo este ser "pago com acréscimo de 25% relativamente ao pagamento de trabalho equivalente prestado durante o dia" (Artigo 266.º, Lei nº 7/2009 de 12 de fevereiro).

Efeitos em nível familiar e social

De um modo geral, os problemas associados ao trabalho por turnos na vida familiar e social surgem em resposta ao desajustamento temporal dos horários praticados pelos trabalhadores e da sociedade, centrando-se sobretudo nos conflitos conjugais e parentais e nas dificuldades no convívio social (Baker, Ferguson, & Dawson, 2003Baker, A., Ferguson, S., & Dawson, D. (2003). The perceived value of time: Controls versus shiftworkers. Time & Society, 12(1), 27-39. doi:10.1177/0961463X03012001444
https://doi.org/10.1177/0961463X03012001...
; Handy, 2010Handy, J. (2010). Maintaining family life under shiftwork schedules: A case study of a New Zealand petrochemical plant. New Zealand Journal of Psychology, 39(1), 7-14.).

Wight, Riley, e Bianchi (2008)Wight, V. R., Raley, S. B., & Bianchi, S. M. (2008). Time for children, one's spouse and oneself among parents who work nonstandard hours. Social Forces, 87(1), 243-271. doi:10.1353/sof.0.0092
https://doi.org/10.1353/sof.0.0092...
, utilizando uma amostra de aproximadamente quatro mil trabalhadores com filhos menores, compararam os impactos dos horários de trabalho "atípicos" com os impactos dos horários convencionais no nível da vida familiar, tendo sido observados tanto aspectos positivos como negativos. Se, por um lado, pais que trabalhavam em horários "atípicos" envolvendo noites passavam mais tempo com os seus filhos, em comparação com pais que trabalhavam em horários convencionais de trabalho, por outro, pais que trabalhavam em horários "atípicos" envolvendo tardes, para tentarem maximizar o contato parental, prejudicavam as relações conjugais e o tempo de lazer pessoal. Outros autores (Mauno, Ruokolainen, & Kinnunen, 2015Mauno, S., Ruokolainen, M., & Kinnunen, U. (2015). Work-family conflict and enrichment from the perspective of psychosocial resources: Comparing Finnish healthcare workers by working schedules. Applied Ergonomics, 48, 86-94. doi:10.1016/j.apergo.2014.11.009
https://doi.org/10.1016/j.apergo.2014.11...
; Tuttle & Garr, 2012Tuttle, R., & Garr, M. (2012). Shift work and work to family fit: Does schedule control matter? Journal of Family Economic Issues, 33(3), 261-271. doi:10.1007/s10834-012-9283-6
https://doi.org/10.1007/s10834-012-9283-...
) observaram igualmente que trabalhadores por turnos, em comparação com trabalhadores diurnos, apresentam maior conflito trabalho-família.

Relativamente aos conflitos nas relações conjugais, Smith e Folkard (1993)Smith, L., & Folkard, S. (1993). The perceptions and feelings of shiftworkers partners. Ergonomics, 36(1-3), 299-305. doi:10.1080/00140139308967885
https://doi.org/10.1080/0014013930896788...
realizaram um estudo exploratório onde avaliaram as perceções de 47 companheiras de trabalhadores por turnos rotativos, sobre o impacto que o horário laboral do companheiro tinha nas suas vidas. As áreas mais afetadas foram os "conflitos conjugais", o "ajustamento da vida aos horários do marido/companheiro" e a "vida social". Em contrapartida, as menos afetadas foram as "ocasiões especiais" e o "contato parental" com as crianças. Neste estudo, a maioria das companheiras estava descontente com o horário por turnos do marido, e um terço já tinha tentado persuadi-lo a mudar de horário de trabalho. Também Minnotte, Minnotte, e Bonstrom (2015)Minnotte, K. L., Minnotte, M. C., & Bonstrom, J. (2015). Work-family conflicts and marital satisfaction among US workers: Does stress amplification matter? Journal of Family and Economic Issues, 36(1), 21-33. doi:10.1007/s10834-014-9420-5
https://doi.org/10.1007/s10834-014-9420-...
observaram que tanto o conflito trabalho-família como o conflito família-trabalho estavam negativamente associados com a satisfação conjugal.

Além das relações conjugais, também as relações parentais sofrem impactos do trabalho por turnos. No estudo de Volger, Ernst, Nachreiner, e Hänecke (1988)Volger, A., Ernst, G., Nachreiner, F., & Hänecke, K. (1988). Common free time of family members under different shift systems. Applied Ergonomics, 19(3), 213-218. doi:10.1016/0003-6870(88)90139-1
https://doi.org/10.1016/0003-6870(88)901...
, foi calculado o "fundo de tempo comum" entre trabalhadores por turnos e os filhos (i.e., o tempo livre que as díadas tinham em comum) em idades pré-escolar e escolar. Os resultados mostraram que, se, por um lado, as crianças em idade pré-escolar apresentavam maior tempo livre em comum com os pais, por outro, as crianças em idade escolar tinham esse tempo livre em comum muito reduzido. Mais tarde, Rosenbaum e Morett (2009)Rosenbaum, E., & Morett, C. R. (2009). The effect of parents' joint work schedules on infants' behavior over the first two years of life: Evidence from the ECLSB. Maternal and Child Health Journal, 13(6), 732-744. doi:10.1007/s10995-009-0488-8
https://doi.org/10.1007/s10995-009-0488-...
observaram também que o trabalho por turnos estava negativamente associado com a saúde dos trabalhadores, a qualidade conjugal, as interações parentais e as rotinas familiares. Ao longo dos anos, outros autores (exs.: Gracia & Kalmijn, 2016Gracia, P., & Kalmijn, M. (2016). Parents' family time and work schedules: The split-shift schedule in Spain. Journal of Marriage and Family, 78(2), 401-415. doi:10.1111/jomf.12270
https://doi.org/10.1111/jomf.12270...
; Maume & Sebastian, 2012Maume, D. J., & Sebastian, R. A. (2012). Gender, nonstandard work schedules, and marital quality. Journal of Family and Economic Issues, 33(4), 477-490. doi:10.1007/s10834-012-9308-1
https://doi.org/10.1007/s10834-012-9308-...
) têm encontrado associações negativas entre os diferentes sistemas de trabalho por turnos e as relações conjugais e/ou parentais.

O trabalho por turnos também pode desencadear impactos negativos em nível social, majoritariamente porque os períodos mais valorizados nesse domínio (final do dia e fins de semana) são sobrepostos pelos períodos laborais desses trabalhadores (Baker et al., 2003Baker, A., Ferguson, S., & Dawson, D. (2003). The perceived value of time: Controls versus shiftworkers. Time & Society, 12(1), 27-39. doi:10.1177/0961463X03012001444
https://doi.org/10.1177/0961463X03012001...
; Craig & Brown, 2014Craig, L., & Brown, J. (2014). Weekend and leisure time with family and friends: Who misses out? Journal of Marriage and Family, 76(4), 710-727. doi:10.1111/jomf.12127
https://doi.org/10.1111/jomf.12127...
). Baker et al. (2003)Baker, A., Ferguson, S., & Dawson, D. (2003). The perceived value of time: Controls versus shiftworkers. Time & Society, 12(1), 27-39. doi:10.1177/0961463X03012001444
https://doi.org/10.1177/0961463X03012001...
avaliaram a valorização do tempo pelos trabalhadores por turnos e pelos trabalhadores diurnos. Para tal, utilizaram matrizes temporais em que os 220 trabalhadores (110 afetos a cada horário) tinham de avaliar cada hora semanal em função de quatro tempos/esferas da vida: trabalho, social, lazer e família. Quanto ao tempo de trabalho, apesar de os trabalhadores por turnos apresentarem preferência pelos horários convencionais, demonstraram uma maior flexibilidade nesse domínio em relação aos diurnos. Quanto às esferas social, de lazer e familiar, os dois grupos valorizaram o tempo de modo semelhante, o que representava maiores dificuldades no caso dos trabalhadores por turnos em termos de conciliação dos horários de trabalho com outras esferas da sua vida.

De um modo geral, a investigação realizada sobre a temática do conflito trabalho-família em Portugal (ex.: Carvalho, Chambel, Neto, & Lopes, 2018Carvalho, V. S., Chambel, M. J., Neto, M., & Lopes, S. (2018). Does work-family conflict mediate the associations of job characteristics with employees' mental health among men and women? Frontiers in Psychology, 9, 966. doi:10.3389/fpsyg.2018.00966
https://doi.org/10.3389/fpsyg.2018.00966...
), não engloba o trabalho por turnos como objeto de estudo. Por sua vez, a investigação sobre os efeitos do trabalho por turnos tem privilegiado os impactos ao nível da saúde (ex.: Oliveira & Pereira, 2012Oliveira, V., & Pereira, T. (2012). Ansiedade, depressão e burnout em enfermeiros: Impacto do trabalho por turnos. Revista de Enfermagem Referência, III(7), 43-54. doi:10.12707/RIII1175
https://doi.org/10.12707/RIII1175...
) em detrimento da vida familiar e social dos trabalhadores (ex.: Ferreira & Silva, 2013Ferreira, A. I., & Silva, I. S. (2013). Trabalho em turnos e dimensões sociais: Um estudo na indústria têxtil. Estudos de Psicologia (Natal), 18(3), 477-485. doi:10.1590/S1413-294X2013000300008
https://doi.org/10.1590/S1413-294X201300...
).

Apesar do crescente interesse do impacto do trabalho por turnos na vida familiar e social, tem sido sugerida (ex.: Maume & Sebastian, 2012Maume, D. J., & Sebastian, R. A. (2012). Gender, nonstandard work schedules, and marital quality. Journal of Family and Economic Issues, 33(4), 477-490. doi:10.1007/s10834-012-9308-1
https://doi.org/10.1007/s10834-012-9308-...
) a necessidade de complementaridade da perspectiva de terceiros, como a família e os amigos, à perspectiva dos próprios trabalhadores para uma melhor compreensão da temática, sendo esta, de fato, ainda muito rara na investigação desta temática. Não há indicativos de estudos que integrem a perspectiva de terceiros sobre os efeitos do trabalho por turnos em Portugal.

OBJETIVOS

Partindo da revisão de literatura descrita e da escassez de estudos que analisam a perspectiva dos familiares sobre o impacto do trabalho por turnos na esfera familiar e social, este estudo teve como principais objetivos: i) contribuir para a validação da escala desenvolvida por Smith e Folkard (1993)Smith, L., & Folkard, S. (1993). The perceptions and feelings of shiftworkers partners. Ergonomics, 36(1-3), 299-305. doi:10.1080/00140139308967885
https://doi.org/10.1080/0014013930896788...
, designada por "Shiftworker partner questionnaire"; ii) caracterizar a interferência do trabalho por turnos na vida familiar e social dos trabalhadores, com base nos relatos dos(as) cônjuges/companheiros(as) de policiais portugueses; iii) analisar a relação entre o impacto do trabalho por turnos e variáveis pessoais e familiares e iv) comparar os relatos de cônjuges/companheiros(as) de trabalhadores por turnos com os relatos de cônjuges/companheiros(as) de trabalhadores diurnos.

Neste estudo, o foco sobre o trabalho por turnos incide nos sistemas de turnos rotativos que englobam noites e fins de semana, devido aos impactos que vários autores (exs.: Handy, 2010Handy, J. (2010). Maintaining family life under shiftwork schedules: A case study of a New Zealand petrochemical plant. New Zealand Journal of Psychology, 39(1), 7-14.; Li et al., 2014Li, J., Johnson, S. E., Han, W., Andrews, S., Kendall, G., Stradzins, L., Dockery, A. (2014). Parents' nonstandard work schedules and child well-being: A critical review of the literature. Journal of Primary Prevention, 35(1), 53-73. doi:10.1007/s10935-013-0318-z
https://doi.org/10.1007/s10935-013-0318-...
) têm encontrado nas esferas familiar e social.

METODOLOGIA

Participantes

A amostra é constituída por 515 cônjuges/companheiros(as) de agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP) portuguesa, nomeadamente 403 de trabalhadores por turnos e 112 de trabalhadores diurnos. Como referido, o principal objetivo do estudo centrou-se na compreensão da interferência do trabalho por turnos na vida familiar e social na perspectiva dos(as) cônjuges/companheiros(as) de trabalhadores por turnos, constituindo estes o maior grupo do estudo. Todavia, para aumentar a confiança na análise de tal interferência, optou-se por integrar um segundo grupo de participantes (cônjuges/companheiros(as) de trabalhadores diurnos), de modo que fosse possível comparar a perspectiva de cônjuges/companheiros(as) de trabalhadores por turnos e de trabalhadores diurnos nos efeitos avaliados. Os dados foram recolhidos em todos os distritos de Portugal Continental, sendo os mais representativos Lisboa (27,7%) e Porto (14,7%) e os menos Beja (0,6%) e Bragança (0,6%), e nas Regiões Autônomas da Madeira e dos Açores, cada uma contribuindo com cerca de 4% da amostra total. Todos os policiais das diferentes regiões geográficas estavam sujeitos às mesmas condições laborais.

Como poderemos observar na Tabela 1, a amostra é constituída por 61,7% participantes do sexo feminino, maioritariamente casados (77,1%) e com idades compreendidas entre os 23 e os 68 anos (M=40,61, DP=8,11). Quanto ao nível de escolaridade, a maioria dos(as) cônjuges/companheiros(as) de policiais tem o ensino secundário ou superior (80,6%). Salienta-se que 64,5% dos participantes já trabalharam por turnos e 43,6% dos participantes trabalham, atualmente, por turnos.

Tabela 1
Caracterização sociodemográfica e profissional dos(as) cônjuges/companheiros(as) de trabalhadores por turnos e de trabalhadores diurnos

No que diz respeito aos policiais, estes têm idades compreendidas entre os 23 e os 58 anos, situando-se a média etária nos 41,06 anos (DP=7,57). Em termos profissionais, têm uma média de antiguidade na profissão de 17,79 anos (DP=7,96) e uma média de antiguidade no horário de trabalho atual de 12,80 anos (DP=8,48). Relativamente às escalas dos policiais que estão sujeitos a trabalho por turnos, foram relatadas duas modalidades diferentes, embora ambas implicando a alternância entre os períodos da manhã, tarde e noite. Enquanto uma implicava trabalhar dois dias seguidos num dado turno e, no final de oito dias de trabalho, seguiam-se dois dias de folga, a outra, implicava, trabalhar dois dias seguidos num dado turno e, no final de seis dias de trabalho, seguiam-se cerca de quatro dias de folga.

Em termos familiares, os participantes estão casados ou vivem em união estável há pelo menos um ano, e o número máximo de anos de união é de 38 anos (M=13,40, DP=8,50). A maioria dos agregados familiares é composta por quatro pessoas (42,52%).

Instrumentos

Na coleta de dados, foram utilizados dois protocolos de avaliação, um para cada grupo de participantes, igualando-se os protocolos no questionário sociodemográfico e profissional, mas diferenciando-se no questionário utilizado para avaliar os impactos do horário de trabalho. Todos os instrumentos foram construídos com base nos instrumentos utilizados por Smith e Folkard (1993)Smith, L., & Folkard, S. (1993). The perceptions and feelings of shiftworkers partners. Ergonomics, 36(1-3), 299-305. doi:10.1080/00140139308967885
https://doi.org/10.1080/0014013930896788...
.

Quanto ao questionário sociodemográfico e profissional, este tinha como finalidade recolher informação sociodemográfica dos participantes (ex.: idade), da sua situação profissional (ex.: horário de trabalho), assim como da sua situação familiar (ex.: número de anos de união), além de dados relativos ao/à marido/esposa (ex.: antiguidade na profissão).

Quanto ao questionário sobre os impactos do horário de trabalho dirigido aos(às) cônjuges/companheiros(as) de trabalhadores por turnos, este foi desenvolvido com base no "Shiftworker partners questionnaire" de Smith e Folkard (1993)Smith, L., & Folkard, S. (1993). The perceptions and feelings of shiftworkers partners. Ergonomics, 36(1-3), 299-305. doi:10.1080/00140139308967885
https://doi.org/10.1080/0014013930896788...
, o qual tinha como objetivo avaliar o impacto do trabalho por turnos na vida familiar e social dos trabalhadores, segundo a perspectiva das companheiras (nesse estudo, todos os participantes eram do sexo feminino). A escolha desse instrumento recaiu no fato de ser o único encontrado na literatura que avaliava os impactos do trabalho por turnos segundo a perspectiva dos(as) cônjuges/companheiros(as). Esse instrumento era constituído por 18 itens avaliados numa escala tipo Likert de 0-10 pontos, significando os valores mais altos maior disrupção. Da análise fatorial exploratória realizada por Smith e Folkard (1993)Smith, L., & Folkard, S. (1993). The perceptions and feelings of shiftworkers partners. Ergonomics, 36(1-3), 299-305. doi:10.1080/00140139308967885
https://doi.org/10.1080/0014013930896788...
, emergiu um fator intitulado "Disrupção Total", composto por 16 dos 18 itens avaliados, tendo o alfa de Cronbach sido de 0.81. Como esse questionário não se encontrava adaptado para a população portuguesa, foi necessário contatar os autores para solicitar a sua disponibilização e autorização de utilização. Obtido o questionário, foi feita a sua tradução e adaptação para o contexto português, tendo este sido designado "Questionário sobre o impacto do trabalho por turnos na perspectiva dos familiares", o qual continha 15 itens da escala original e alguns itens/questões complementares desenvolvidos a posteriori pelos autores originais e cedidos quando do pedido da escala. Esses itens complementares foram adicionados ao questionário, permitindo, assim, uma leitura mais aprofundada de certos aspectos. Especificamente, incluíam três perguntas avaliadas numa escala tipo Likert de 0-10 pontos, quatro perguntas dicotômicas ("Sim" e "Não") e duas perguntas abertas referentes à percepção que os participantes tinham do impacto que o trabalho por turnos dos(as) cônjuges/companheiros(as) provocava nas crianças e a sugestões/comentários acerca do tema abordado. As duas últimas questões já foram alvo de publicação anterior (Costa, Silva, & Veloso, 2017Costa, D., Silva, I. S., & Veloso, A. (2017). Experience in working shifts: The spouses/partners vision of shift workers and day workers. In P. Arezes et al. (Eds.), Occupational Safety and Hygiene V (pp. 369-373). London: Taylor & Francis Group.) e, por conseguinte, não serão aqui tratadas.

Por sua vez, foi desenvolvido um outro questionário intitulado "Questionário sobre o impacto do horário de trabalho na perspectiva dos familiares" dirigido aos(às) cônjuges/companheiros(as) de trabalhadores diurnos. Este questionário foi construído a partir do descrito anteriormente, sendo utilizados apenas os itens possíveis de serem comparados entre os dois grupos de participantes (nove itens da escala e cinco questões complementares).

Procedimentos

Numa fase inicial e depois de criadas duas versões do protocolo de avaliação (uma para cada grupo de familiares em análise), foi estabelecido contato com um sindicato da PSP, que aceitou divulgar o questionário on-line pelos seus associados. Apesar de terem sido recolhidas algumas respostas nesta fase, o número ficou aquém dos objetivos inicialmente estabelecidos - 200 participantes. Esse número foi instituído com base nas recomendações para a validação de instrumentos (Almeida & Freire, 2003Almeida, L., & Freire, T. (2003). Metodologia da Investigação em Psicologia e Educação (3ª ed.). Braga: Edições Psiquilíbrios.).

Numa segunda fase, foram feitos novos contatos com outros sindicatos para tentar maximizar o número de respostas. Os links dos questionários foram enviados por e-mail, juntamente com uma explicação do propósito do estudo, para cada presidente dos sindicatos. Três dos sindicatos contatados aceitaram divulgar o estudo pelos seus associados, tendo permitido aumentar o número de questionários inicial. Os questionários dirigidos aos sindicatos estiveram disponíveis cerca de seis meses (janeiro-junho de 2016).

Nas primeiras fases de divulgação do estudo, foram recolhidas 154 respostas, o que ainda ficava aquém do tamanho mínimo da amostra desejada. Para tal, numa terceira fase, foi contatada a Direção Nacional (DN) da PSP com o mesmo propósito dos contatos anteriores, ou seja, divulgar o estudo e aumentar o número de respostas. Depois da aprovação e consequente divulgação em nível nacional, os questionários estiveram disponíveis cerca de três meses (junho-setembro de 2016). Nessa fase, foram recolhidas 361 respostas. Na Figura 1 é apresentado um fluxograma das fases da recolha de dados.

Figura 1
Fases da recolha de dados

Salienta-se que, nos contatos realizados com os presidentes dos sindicatos e, posteriormente, com a DN, foi realçado o objetivo do estudo e a quem se dirigia, sendo várias vezes reforçada a ideia que os questionários deveriam ser respondidos "pelos(as) cônjuges/companheiros(as) dos policiais", e não pelos próprios agentes de segurança. Também essa ideia era salientada nos questionários, assim como a garantia de anonimato e confidencialidade.

Na análise dos dados, foi utilizado o programa Statistical Package for the Social Sciences (IBM® SPSS®), que permitiu realizar: i) análise fatorial exploratória da escala; ii) análises descritivas e iii) análises inferenciais para associação entre variáveis e para comparação de grupos, tendo-se realizado testes não paramétricos devido ao não cumprimento dos pressupostos para utilização de testes paramétricos (Field, 2005Field, A. (2005). Discovering Statistics Using SPSS. London: Sage.). Juntamente com o SPSS, também foi utilizado o Analysis of Moment Structures (IBM® SPSS® Amos), para realizar análises fatoriais confirmatórias.

RESULTADOS

Nesta seção, serão apresentados os resultados da análise das propriedades psicométricas da escala utilizada, a caracterização da interferência do trabalho por turnos na vida familiar e social, segundo a perspectiva dos(as) cônjuges/companheiros(as) de trabalhadores por turnos, assim como a comparação entre as perspectivas dos(as) cônjuges/companheiros(as) de trabalhadores por turnos e dos(as) cônjuges/companheiros(as) de trabalhadores diurnos.

Análise das características psicométricas da escala

Análise fatorial exploratória (AFE)

A análise de dados iniciou-se com a AFE dos componentes principais com rotação varimax da escala utilizada. O valor de KMO (Kaiser-Meyer-Olkin measure of sampling adequacy) obtido foi de 0,94, o que é acima do valor limite (0,5) para aceitação da amostra (Field, 2005Field, A. (2005). Discovering Statistics Using SPSS. London: Sage.). Por seu lado, o teste de esfericidade de Bartlett foi de χ2(105)=3679,88, p<0,001, o que permitiu a continuidade da análise.

No conjunto dos 15 itens, foram extraídos dois fatores, que explicam 65,58% da variância total. Como apresentado na Tabela 2, o primeiro fator explica 39,37% da variância total e é constituído por nove itens, enquanto o segundo fator, com seis itens, explica 26,21% da variância total. Para efeitos de retenção do item no respectivo fator, considerou-se uma carga fatorial ≥ 0,5 (Tabachnick & Fidell, 1989Tabachnick, B. G., & Fidell, L. S. (2007). Using multivariate statistics (5th Ed.). Boston, MA: Allyn and Bacon.), tendo dois itens apresentado cargas ligeiramente abaixo deste valor (item 1 - 0.450 e item 17 - 0.495). No entanto, dado que foi a primeira vez que se aplicou essa escala em contexto português e que os valores são muito próximos dos desejáveis, optou-se por mantê-los nas análises seguintes.

Tabela 2
Resultados da análise fatorial exploratória da escala utilizada no estudo

Uma inspeção mais detalhada ao conteúdo dos itens retidos em cada fator sugere que o primeiro fator engloba itens relacionados com a vida social, a organização da vida doméstica e a responsabilidade do participante pelos filhos (i.e., são itens que abordam o planejamento e a reorganização das esferas familiar e social resultante do trabalho por turnos de pelo menos um membro do agregado familiar), enquanto o segundo fator é constituído por itens mais focados no relacionamento entre os membros dos agregados familiares (i.e., são itens que avaliam o impacto do trabalho por turnos nas relações conjugais - participante e policial - e nas relações parentais - policial e filhos)).

Análise fatorial confirmatória (AFC)

Tendo em consideração os resultados obtidos na AFE anterior, que apontam para uma estrutura bidimensional, e na estrutura unidimensional referida pelos autores da escala original (Smith & Folkard, 1993Smith, L., & Folkard, S. (1993). The perceptions and feelings of shiftworkers partners. Ergonomics, 36(1-3), 299-305. doi:10.1080/00140139308967885
https://doi.org/10.1080/0014013930896788...
), a AFC foi utilizada para testar dois modelos: Modelo 1, que incluía apenas um fator, e Modelo 2, que incluía dois fatores. Em termos de avaliação da qualidade de ajustamento dos modelos aos dados, foram utilizados os seguintes indicadores: χ2/gl, GFI, NFI, CFI e RMSEA (Kline, 2005Kline, R. B. (2005). Principles and practice of structural equation modelling (2ª ed.). New York: The Guilford Press.).

Como se pode observar na Tabela 3, os valores de ajustamento do Modelo 1 e do Modelo 2 não são aceitáveis. Analisando as cargas fatoriais dos itens, verificou-se que o item 1, em ambos os modelos, apresenta uma carga fatorial < 0,5 (0,37 e 0,40, respectivamente), variando as restantes cargas entre 0,52 (item 16) e 0,87 (item 6) no Modelo 1 e entre 0,52 (item 16) e 0,90 (item 4) no Modelo 2. Por outro lado, a inspeção aos índices de modificação indicou uma elevada covariância entre os erros do item 11 e do item 12, em ambos os modelos (Modelo 1 - 247,77 e Modelo 2 - 245,39). Considerando os resultados obtidos nos testes efetuados, foram testados dois novos modelos: Modelo 3 semelhante ao Modelo 1, e Modelo 4 semelhante ao Modelo 2, mas sem o item 1 (pelas razões apresentadas anteriormente) e nem o item 12 (optou-se por reter o item 11 devido à maior abrangência do conteúdo abordado). Atendendo aos índices de ajustamento apresentados na Tabela 3, o Modelo 4 é o que apresenta valores de ajustamento aceitáveis e que será considerado nas análises seguintes.

Tabela 3
Índices de ajustamento para os diferentes modelos testados na AFC

Com base na análise do conteúdo presente nos dois fatores resultantes das análises anteriores, o primeiro fator (ou primeira subescala) foi intitulado de "Perturbação Global" (M=7,41, DP=2,40) e o segundo fator (ou segunda subescala) foi intitulado de "Perturbação no Relacionamento Familiar" (M=5,81, DP=2,33). A análise da confiabilidade indicou que cada fator apresenta elevada consistência interna ("Perturbação Global" - α=0,95 e "Perturbação no Relacionamento Familiar" - α=0,84) e ambos se correlacionam positivamente (rs=0,726, p<0,001).

Caracterização da interferência do trabalho por turnos na vida familiar e social

No sentido de caracterizar de modo mais detalhado a interferência do trabalho por turnos na vida familiar e social dos trabalhadores por turnos, foram calculados a média e o desvio-padrão para os 13 itens retidos (ver Tabela 4). Para uma melhor percepção comparativa entre as áreas avaliadas, estas foram ordenadas no sentido decrescente.

Tabela 4
Estatísticas descritivas dos itens que constituem a escala (por ordem decrescente de interferência) na perspectiva dos(as) cônjuges/companheiros(as) de trabalhadores por turnos

Como podemos observar na Tabela 4, todos os itens pontuaram acima de cinco pontos ou muito próximo desse valor (item 3 - 4,98). Considerando que os itens foram avaliados numa escala tipo Likert de zero a dez pontos e que, quanto maior pontuação, maior o impacto causado pelo trabalho por turnos na vida familiar e social, pode dizer-se que o trabalho por turnos causou impacto de moderado a elevado em todas as áreas avaliadas, segundo a perspectiva dos(as) cônjuges/companheiros(as) de policiais portugueses trabalhadores por turnos. A "reorganização e o planejamento da vida familiar e doméstica" e a "vida social dos membros do agregado familiar" são as áreas mais afetadas pelo trabalho por turnos (itens 6, 7 e 8), ao passo que a "existência de conflitos e/ou desavenças conjugais resultantes do trabalho por turnos" (item 3) é a área menos afetada.

Na sequência dessa caracterização, foram, ainda, analisadas sete perguntas complementares que faziam parte do questionário do impacto do trabalho por turnos, divididas em duas temáticas diferentes: impacto do trabalho por turnos em aspectos pessoais relativos à relação conjugal e impacto do trabalho por turnos nas relações parentais (ver Tabela 5).

Tabela 5
Frequência das respostas às perguntas relacionadas com o impacto em aspectos pessoais e nas relações parentais

Observando a Tabela 5, salienta-se que a maioria dos participantes já tentou persuadir o trabalhador por turnos a mudar de horário de trabalho (54,6%). Quanto às relações parentais, a maioria dos participantes relata que o contato entre os trabalhadores por turnos e os filhos é insuficiente (62,4%) e que outros horários seriam melhores para a relação parental (88,7%). Quanto aos turnos integrados no sistema rotativo, o da noite é percebido como o mais prejudicial para as relações parentais.

Análise da relação entre o impacto do trabalho por turnos e variáveis pessoais e familiares

No nível das duas subescalas avaliadas (Perturbação Global e Perturbação no Relacionamento Familiar), não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os participantes que têm conhecimento das escalas do trabalho por turnos dos(as) cônjuges/companheiros(as) e os que não têm esse conhecimento, nem entre os participantes que trabalham ou já trabalharam por turnos e os que nunca trabalharam por turnos. Também não foi encontrada correlação entre o número de anos de união e as duas subescalas avaliadas.

Apenas foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os participantes que já tentaram persuadir os(as) cônjuges/companheiros(as) a mudar de horário de trabalho e os que não fizeram essas tentativas de persuasão ao nível da Perturbação Global (U=9192,00, p<0,001) e ao nível da Perturbação no Relacionamento Familiar (U=7444,50, p<0,001). Especificamente, os participantes que já tentaram persuadir os policiais a mudar de horário de trabalho (Ordem Média=179,87) relataram maiores impactos do trabalho por turnos do(a) cônjuge/companheiro(a) ao nível da Perturbação Global do que os que não fizeram essas tentativas (Ordem Média=136,46). De modo semelhante, os participantes que já fizeram tentativas de persuasão (Ordem Média=182,71) relataram maiores impactos do trabalho por turnos do(a) cônjuge/companheiro(a) ao nível da Perturbação no Relacionamento Familiar, quando comparados com os que não fizeram tentativas de persuasão (Ordem Média=123,80).

Comparação entre os relatos de cônjuges/companheiros(as) de trabalhadores por turnos e cônjuges/companheiros(as) de trabalhadores diurnos

No sentido de analisar as diferenças existentes entre os relatos de cônjuges/companheiros(as) de trabalhadores por turnos e diurnos, foram realizados testes de Mann-Whitney (U) nos itens avaliados nos dois grupos (ver Tabela 6).

Tabela 6
Comparação entre os relatos de cônjuges/companheiros(as) de trabalhadores por turnos e cônjuges/companheiros(as) de trabalhadores diurnos

Como se pode observar na Tabela 6, todas as comparações realizadas evidenciaram diferenças estatisticamente significativas, no sentido em que os(as) cônjuges/companheiros(as) de trabalhadores por turnos percebem maiores impactos do horário laboral dos policiais na sua vida familiar e social do que os(as) cônjuges/companheiros(as) de trabalhadores diurnos.

DISCUSSÃO

O primeiro objetivo proposto neste estudo visava contribuir para a validação da escala desenvolvida por Smith e Folkard (1993)Smith, L., & Folkard, S. (1993). The perceptions and feelings of shiftworkers partners. Ergonomics, 36(1-3), 299-305. doi:10.1080/00140139308967885
https://doi.org/10.1080/0014013930896788...
para o contexto português. De um modo geral, os métodos de análise do "Questionário sobre o Impacto do Trabalho por Turnos" indicaram boas propriedades psicométricas na amostra estudada. No entanto, e contrariamente ao estudo original, identificaram-se dois fatores, um mais geral, que englobava temas como reorganização da vida familiar, e outro mais focado nas relações familiares, tanto conjugais como parentais. As diferenças encontradas entre a escala original e a escala adaptada podem ser resultantes de múltiplos fatores, como os contextos diferentes em que foram realizados os dois estudos (exs.: ano civil, país/cultura, mudanças na sociedade e, consequentemente, nas famílias) e o tamanho diferente das amostras (47 cônjuges de trabalhadores por turnos no estudo original versus 403 cônjuges de trabalhadores por turnos no presente estudo). Nesta discussão, importa também salientar que o instrumento utilizado foi desenvolvido em 1993 e, por isso, pode não ser suficientemente abrangente para captar a realidade familiar e social da atualidade, pelo que se sugere o seu eventual refinamento no futuro. Não obstante as considerações anteriores, sublinha-se também que o instrumento, quando confrontado com a literatura (exs.: Baker et al., 2003Baker, A., Ferguson, S., & Dawson, D. (2003). The perceived value of time: Controls versus shiftworkers. Time & Society, 12(1), 27-39. doi:10.1177/0961463X03012001444
https://doi.org/10.1177/0961463X03012001...
; Rosenbaum e Morett (2009)Rosenbaum, E., & Morett, C. R. (2009). The effect of parents' joint work schedules on infants' behavior over the first two years of life: Evidence from the ECLSB. Maternal and Child Health Journal, 13(6), 732-744. doi:10.1007/s10995-009-0488-8
https://doi.org/10.1007/s10995-009-0488-...
), não deixa de integrar várias facetas (exs.: "organização da vida familiar", "relações conjugais", "relações/contatos parentais") contempladas no estudo do impacto do trabalho por turnos nos domínios familiar e social. Além disso, tal como foi referido anteriormente, este era o único instrumento disponível na literatura que permitia avaliar o impacto do trabalho por turnos em tais domínios na perspectiva dos(as) cônjuges/companheiros(as).

Quanto ao segundo objetivo - que pretendia caracterizar o impacto do trabalho por turnos na vida familiar e social dos trabalhadores, segundo a perspectiva dos(as) seus(suas) cônjuges/companheiros(as) - os resultados obtidos mostraram que o trabalho por turnos causa impacto de moderado a elevado em todas as áreas avaliadas, sendo a reorganização/planejamento constante da vida pessoal e familiar e a vida social, quer seja pessoal ou conjunta, as mais afetadas. Do ponto de vista mais conceitual, tais resultados reforçam a pertinência das observações feitas por autores como Chambel e Ribeiro (2014)Chambel, M. J., & Ribeiro, M. T. R. (2014). Introdução. In M. J. Chambel & M. T. R. Ribeiro (Coords.), A relação entre o trabalho e a família (pp. 6-10). Lisboa: RH Editora. ou Oláh et al. (2018)Oláh, L. S., Kotowska, I. E., & Richter, R. (2018). The new roles of men and women and implications for families and societies. In G. Doblhammer & J. Gumà (Eds.), A Demographic perspective on gender, family and health in Europe (pp. 41-64). Cham: Springer. de que as exigências do mercado de trabalho são cada vez maiores e as famílias modificam-se no mesmo sentido, sendo necessária a procura constante por um equilíbrio entre a interface trabalho-família, dado que a realidade nos aponta para que a maioria da população se dedica simultaneamente a trabalhar e às responsabilidades familiares. Do ponto de vista empírico, excetuando o fato dos "conflitos conjugais" terem sido a área mais afetada no estudo de Smith e Folkard (1993)Smith, L., & Folkard, S. (1993). The perceptions and feelings of shiftworkers partners. Ergonomics, 36(1-3), 299-305. doi:10.1080/00140139308967885
https://doi.org/10.1080/0014013930896788...
, os resultados obtidos são consistentes com a investigação que aponta para os elevados impactos que o trabalho por turnos pode ter em termos familiares e sociais (exs.: Minnotte et al., 2015Minnotte, K. L., Minnotte, M. C., & Bonstrom, J. (2015). Work-family conflicts and marital satisfaction among US workers: Does stress amplification matter? Journal of Family and Economic Issues, 36(1), 21-33. doi:10.1007/s10834-014-9420-5
https://doi.org/10.1007/s10834-014-9420-...
; Rosenbaum & Morett, 2009Rosenbaum, E., & Morett, C. R. (2009). The effect of parents' joint work schedules on infants' behavior over the first two years of life: Evidence from the ECLSB. Maternal and Child Health Journal, 13(6), 732-744. doi:10.1007/s10995-009-0488-8
https://doi.org/10.1007/s10995-009-0488-...
). As questões complementares reforçam tal impacto, pois todas elas revelavam elevada interferência do trabalho por turnos na vida familiar, nas relações conjugais e/ou parentais. Em todo o caso, saliente-se que, no presente estudo, o contacto parental em conexão com o turno da noite foi o mais afetado, contrariamente ao estudo de Wight et al. (2008)Wight, V. R., Raley, S. B., & Bianchi, S. M. (2008). Time for children, one's spouse and oneself among parents who work nonstandard hours. Social Forces, 87(1), 243-271. doi:10.1353/sof.0.0092
https://doi.org/10.1353/sof.0.0092...
, em que os participantes que trabalhavam em horários "atípicos" relataram maiores conflitos nas relações parentais em conexão com o turno da tarde.

As diferenças estatisticamente significativas observadas na comparação entre a existência ou não de tentativas de persuasão por parte dos participantes, tendo os participantes que já tinham realizado tentativas de persuasão relatado maiores impactos nas duas subescalas ("Perturbação Global" e "Perturbação no Relacionamento Familiar"), reforçam, mais uma vez, a dificuldade que o sistema de turnos rotativo poderá representar na gestão da vida familiar/social e, por consequência, no descontentamento dos(as) cônjuges/companheiros(as). Dada a elevada percentagem (54,6%) obtida na amostra de tais tentativas de persuasão pelos(as) cônjuges/companheiros(as) de trabalhadores por turno, seria importante aprofundar a sua influência. Outros autores (Newey & Hood, 2004Newey, C. A., & Hood, B. M. (2004). Determinants of shift-work adjustment for nursing staff: The critical experience of partners. Journal of Professional Nursing, 20(3), 187-195. doi:10.1016/j.profnurs.2004.04.007
https://doi.org/10.1016/j.profnurs.2004....
; Smith & Folkard, 1993Smith, L., & Folkard, S. (1993). The perceptions and feelings of shiftworkers partners. Ergonomics, 36(1-3), 299-305. doi:10.1080/00140139308967885
https://doi.org/10.1080/0014013930896788...
), apesar de não realizarem comparações entre a existência ou não de tentativas de persuasão, encontraram percentagens consideráveis de tentativas de persuasão em amostras que também relataram elevados impactos do trabalho por turnos na vida familiar e social.

Por último, quanto às comparações entre os relatos de familiares de trabalhadores por turnos com os relatos de familiares de trabalhadores diurnos, os resultados obtidos no presente estudo suportam os de estudos anteriores (exs.: Mauno et al., 2015Mauno, S., Ruokolainen, M., & Kinnunen, U. (2015). Work-family conflict and enrichment from the perspective of psychosocial resources: Comparing Finnish healthcare workers by working schedules. Applied Ergonomics, 48, 86-94. doi:10.1016/j.apergo.2014.11.009
https://doi.org/10.1016/j.apergo.2014.11...
; Tuttle & Garr, 2012Tuttle, R., & Garr, M. (2012). Shift work and work to family fit: Does schedule control matter? Journal of Family Economic Issues, 33(3), 261-271. doi:10.1007/s10834-012-9283-6
https://doi.org/10.1007/s10834-012-9283-...
), ou seja, de que o trabalho por turnos provoca maiores impactos na vida familiar e social do que horários de trabalho convencionais. Contudo, e apesar de os resultados irem no sentido esperado, a comparação entre este estudo e anteriores não pode ser direta, dado que o presente estudo teve um carácter inovador ao estudar as percepções dos(as) cônjuges/companheiros(as), e não as percepções dos próprios trabalhadores. Em todo caso, julgamos que é importante sublinhar neste contexto a convergência das percepções quanto à existência de um maior impacto do trabalho em turnos rotativos na vida familiar e social em comparação com o horário de trabalho referido como convencional ou normal. Com efeito, os horários de trabalho por turnos vieram a desenvolver-se, nos últimos anos, provocando um maior conflito trabalho-família para os trabalhadores que se veem alocados a essas modalidades horárias, devido à perda de sincronismo com os restantes membros do agregado familiar. Para tal, a literatura tem de explorar ainda mais possíveis estratégias de intervenção que ajudem a minimizar tais impactos para os trabalhadores. Nesse contexto, Demerouti, Geurts, e Bakker (2004)Demerouti, E., Geurts, S. A., Bakker, A. B, & Euwema, M. (2004). The impact of shiftwork on work-home conflict, job attitudes and health. Ergonomics, 47(9), 987-1002. doi:10.1080/00140130410001670408
https://doi.org/10.1080/0014013041000167...
sugeriram que o trabalho por turnos deveria ser evitado, ou, quando muito, deveria ser planejado de modo flexível. Com efeito, se lembrarmos que as circunstâncias e necessidades familiares/sociais dos(as) trabalhadores(as) podem divergir significativamente, tal flexibilidade (ex.: possibilidade de escolha do turno de trabalho) ajuda a promover a conciliação entre exigências pessoais e profissionais.

Na interpretação dos resultados, devem ter-se em conta algumas limitações. Em primeiro lugar, os participantes deste estudo são todos(as) cônjuges/companheiros(as) de policiais, não havendo heterogeneidade dos grupos profissionais em estudo. Para tentar obviar esta limitação, sugere-se o alargamento do estudo a outros grupos profissionais que também estejam sujeitos a diferentes horários de trabalho. Em segundo lugar, a forma de divulgação e distribuição dos questionários on-line pelos participantes foi realizada por elementos externos a este estudo (ex.: presidentes de sindicatos), o que pode ter causado algum enviesamento na amostra. Por último, o design transversal do estudo não permite uma percepção alargada no tempo dos impactos do trabalho por turnos na vida familiar e social.

Além dos estudos mencionados anteriormente para controle das limitações, poderão ser desenvolvidas outras investigações que permitam aprofundar essa temática, nomeadamente: i) comparar os relatos dos(as) cônjuges/companheiros(as) com os relatos dos próprios trabalhadores e ii) alargar os relatos acerca do impacto do trabalho por turnos na vida familiar e social a outros membros da rede familiar (ex.: filhos(as)) e social (ex.: amigos(as)).

  • Versão original

AGRADECIMENTOS

As autoras expressam o seu enorme agradecimento aos Professores Simon Folkard e Lawrence Smith pela pronta disponibilização do "Shiftworker partners questionnaire". Um agradecimento também especial a todas as entidades e seus representantes que ajudaram na divulgação do estudo junto dos policiais portugueses, designadamente o Departamento de Formação da Direção Nacional da PSP, à Associação Sindical Autónoma de Polícia (ASAPOL), à Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP) e ao Sindicato dos Profissionais de Polícia (SPP). Por fim, um profundo agradecimento a todos os participantes da investigação, policiais ou seus cônjuges.

REFERÊNCIAS

  • Almeida, L., & Freire, T. (2003). Metodologia da Investigação em Psicologia e Educação (3ª ed.). Braga: Edições Psiquilíbrios.
  • Baker, A., Ferguson, S., & Dawson, D. (2003). The perceived value of time: Controls versus shiftworkers. Time & Society, 12(1), 27-39. doi:10.1177/0961463X03012001444
    » https://doi.org/10.1177/0961463X03012001444
  • Carvalho, V. S., Chambel, M. J., Neto, M., & Lopes, S. (2018). Does work-family conflict mediate the associations of job characteristics with employees' mental health among men and women? Frontiers in Psychology, 9, 966. doi:10.3389/fpsyg.2018.00966
    » https://doi.org/10.3389/fpsyg.2018.00966
  • Chambel, M. J., & Ribeiro, M. T. R. (2014). Introdução. In M. J. Chambel & M. T. R. Ribeiro (Coords.), A relação entre o trabalho e a família (pp. 6-10). Lisboa: RH Editora.
  • Costa, D., Silva, I. S., & Veloso, A. (2017). Experience in working shifts: The spouses/partners vision of shift workers and day workers. In P. Arezes et al. (Eds.), Occupational Safety and Hygiene V (pp. 369-373). London: Taylor & Francis Group.
  • Costa, G. (2003). Shift work and occupational medicine: An overview. Occupational Medicine, 53(2), 83-88. doi:10.1093/occmed/kqg045
    » https://doi.org/10.1093/occmed/kqg045
  • Costa, G. (2004). Multidimensional aspects related to shiftworkers' health and well-being. Revista de Saúde Pública, 38(supl), 86-91. doi:10.1590/S0034-89102004000700013
    » https://doi.org/10.1590/S0034-89102004000700013
  • Craig, L., & Brown, J. (2014). Weekend and leisure time with family and friends: Who misses out? Journal of Marriage and Family, 76(4), 710-727. doi:10.1111/jomf.12127
    » https://doi.org/10.1111/jomf.12127
  • Demerouti, E., Geurts, S. A., Bakker, A. B, & Euwema, M. (2004). The impact of shiftwork on work-home conflict, job attitudes and health. Ergonomics, 47(9), 987-1002. doi:10.1080/00140130410001670408
    » https://doi.org/10.1080/00140130410001670408
  • European Foundation for the Improvement of Living and Working Conditions - Eurofound. (2016). Sixth European Working Conditions Survey - Overview report Publications Office of the European Union. doi:10.2806/518312
    » https://doi.org/10.2806/518312
  • Ferreira, A. I., & Silva, I. S. (2013). Trabalho em turnos e dimensões sociais: Um estudo na indústria têxtil. Estudos de Psicologia (Natal), 18(3), 477-485. doi:10.1590/S1413-294X2013000300008
    » https://doi.org/10.1590/S1413-294X2013000300008
  • Field, A. (2005). Discovering Statistics Using SPSS London: Sage.
  • Gracia, P., & Kalmijn, M. (2016). Parents' family time and work schedules: The split-shift schedule in Spain. Journal of Marriage and Family, 78(2), 401-415. doi:10.1111/jomf.12270
    » https://doi.org/10.1111/jomf.12270
  • Handy, J. (2010). Maintaining family life under shiftwork schedules: A case study of a New Zealand petrochemical plant. New Zealand Journal of Psychology, 39(1), 7-14.
  • Kline, R. B. (2005). Principles and practice of structural equation modelling (2ª ed.). New York: The Guilford Press.
  • Li, J., Johnson, S. E., Han, W., Andrews, S., Kendall, G., Stradzins, L., Dockery, A. (2014). Parents' nonstandard work schedules and child well-being: A critical review of the literature. Journal of Primary Prevention, 35(1), 53-73. doi:10.1007/s10935-013-0318-z
    » https://doi.org/10.1007/s10935-013-0318-z
  • Matheson, A., O'Brien, L., & Reid, J. A. (2014). The impact of shiftwork on health: A literature review. Journal of Clinical Nursing, 23(23-24), 3309-3320. doi:10.1111/jocn.12524
    » https://doi.org/10.1111/jocn.12524
  • Maume, D. J., & Sebastian, R. A. (2012). Gender, nonstandard work schedules, and marital quality. Journal of Family and Economic Issues, 33(4), 477-490. doi:10.1007/s10834-012-9308-1
    » https://doi.org/10.1007/s10834-012-9308-1
  • Mauno, S., Ruokolainen, M., & Kinnunen, U. (2015). Work-family conflict and enrichment from the perspective of psychosocial resources: Comparing Finnish healthcare workers by working schedules. Applied Ergonomics, 48, 86-94. doi:10.1016/j.apergo.2014.11.009
    » https://doi.org/10.1016/j.apergo.2014.11.009
  • Minnotte, K. L., Minnotte, M. C., & Bonstrom, J. (2015). Work-family conflicts and marital satisfaction among US workers: Does stress amplification matter? Journal of Family and Economic Issues, 36(1), 21-33. doi:10.1007/s10834-014-9420-5
    » https://doi.org/10.1007/s10834-014-9420-5
  • Newey, C. A., & Hood, B. M. (2004). Determinants of shift-work adjustment for nursing staff: The critical experience of partners. Journal of Professional Nursing, 20(3), 187-195. doi:10.1016/j.profnurs.2004.04.007
    » https://doi.org/10.1016/j.profnurs.2004.04.007
  • Oláh, L. S., Kotowska, I. E., & Richter, R. (2018). The new roles of men and women and implications for families and societies. In G. Doblhammer & J. Gumà (Eds.), A Demographic perspective on gender, family and health in Europe (pp. 41-64). Cham: Springer.
  • Oliveira, V., & Pereira, T. (2012). Ansiedade, depressão e burnout em enfermeiros: Impacto do trabalho por turnos. Revista de Enfermagem Referência, III(7), 43-54. doi:10.12707/RIII1175
    » https://doi.org/10.12707/RIII1175
  • Parker, K., & Patten, E. (2013). The sandwich generation, rising financial burdens for middle-aged Americans, pew research, social & demographic trends. Recuperado de http://www.pewsocialtrends.org/2013/01/30/the-sandwich-generation/
    » http://www.pewsocialtrends.org/2013/01/30/the-sandwich-generation/
  • Pordata. (2018). Agregados domésticos privados monoparentais: total e por sexo. Recuperado de https://www.pordata.pt/Portugal/Agregados+dom%C3%A9sticos+privados+monoparentais+total+e+por+sexo+-20-3657
    » https://www.pordata.pt/Portugal/Agregados+dom%C3%A9sticos+privados+monoparentais+total+e+por+sexo+-20-3657
  • Rosenbaum, E., & Morett, C. R. (2009). The effect of parents' joint work schedules on infants' behavior over the first two years of life: Evidence from the ECLSB. Maternal and Child Health Journal, 13(6), 732-744. doi:10.1007/s10995-009-0488-8
    » https://doi.org/10.1007/s10995-009-0488-8
  • Shen, J., & Dicker, B. (2008). The impacts of shiftwork on employees. The International Journal of Human Resource Management, 19(2), 392-405. doi:10.1080/09585190701799978
    » https://doi.org/10.1080/09585190701799978
  • Silva, I. S. (2012). As condições de trabalho no trabalho por turnos: Conceitos, efeitos e intervenções Lisboa, Portugal: Climepsi Editores.
  • Smith, L., & Folkard, S. (1993). The perceptions and feelings of shiftworkers partners. Ergonomics, 36(1-3), 299-305. doi:10.1080/00140139308967885
    » https://doi.org/10.1080/00140139308967885
  • Tabachnick, B. G., & Fidell, L. S. (2007). Using multivariate statistics (5th Ed.). Boston, MA: Allyn and Bacon.
  • Tuttle, R., & Garr, M. (2012). Shift work and work to family fit: Does schedule control matter? Journal of Family Economic Issues, 33(3), 261-271. doi:10.1007/s10834-012-9283-6
    » https://doi.org/10.1007/s10834-012-9283-6
  • Volger, A., Ernst, G., Nachreiner, F., & Hänecke, K. (1988). Common free time of family members under different shift systems. Applied Ergonomics, 19(3), 213-218. doi:10.1016/0003-6870(88)90139-1
    » https://doi.org/10.1016/0003-6870(88)90139-1
  • West, S., Mapedzahama, V., Ahern, M., & Rudge, T. (2012). Rethinking shiftwork: Mid-life nurses making it work. Nursing Inquiry, 19(2), 177-187. doi:10.1111/j.1440-1800.2011.00552.x
    » https://doi.org/10.1111/j.1440-1800.2011.00552.x
  • Wight, V. R., Raley, S. B., & Bianchi, S. M. (2008). Time for children, one's spouse and oneself among parents who work nonstandard hours. Social Forces, 87(1), 243-271. doi:10.1353/sof.0.0092
    » https://doi.org/10.1353/sof.0.0092

Editado por

Avaliado pelo sistema double blind review. Editor Científico: Jair Nascimento Santos

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Maio 2019
  • Data do Fascículo
    Mar-Apr 2019

Histórico

  • Recebido
    01 Mar 2018
  • Aceito
    06 Nov 2018
Fundação Getulio Vargas, Escola de Administração de Empresas de S.Paulo Av 9 de Julho, 2029, 01313-902 S. Paulo - SP Brasil, Tel.: (55 11) 3799-7999, Fax: (55 11) 3799-7871 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: rae@fgv.br